ENTREVISTA: RUBENS SARACENI - "EXU É UM ORIXÁ
14/04/2018 12:41
"É indiscutível que Exu é um Orixá"
Por Alexandre Cumino
Entrevista do médium e macerdote de Umbanda Rubens Saraceni à Revista Espiritual de Umbanda, Edição Especial 1, ano I, Editora Escala.
Rubens Saraceni |
“Exu é o Guardião das Passagens e Porteiras que existem em nosso mundo visível, protegendo, para que não adentrem em nosso ambiente as influências negativas. Sua característica mais marcante é a de transmissor da fertilidade e da fecundação. Caminha no tempo e espaço com tranqüilidade, abrindo nossos caminhos. Difícil falar de Exu sem comentar a controvertida face do mal que se formou no imaginário popular. Outro ponto bastante discutível é se ele é um Orixá ou apenas mais uma Entidade representativa do ser humano. Mas Exu é muito mais que isso; tanto pode se apresentar no mundo visível que conhecemos, como também no mundo dos Orixás, Entidades e Espíritos dos Mortos.
Exus são Entidades muito poderosas, mas qualquer um que se utilize de sua vibração deve tomar sempre muito cuidado para não causar um desequilíbrio energético. Ele é o mensageiro, aquele que leva nossos pedidos até o conhecimento dos Orixás. Na época da escravidão, os negros africanos dançavam nas senzalas e os brancos entendiam como uma simples saudação aos seus deuses. Mas ali incorporavam seus Exus que, com seu jeito de se movimentar e gritar, acabavam por assustá-los. Estes, os brancos, agrediam os médiuns, dizendo que estavam possuídos pelo demônio. Com o tempo, os brancos conheceram melhor a religiosidade africana e sabiam das entregas feitas a Exu, confirmando, em sua visão deturpada, a “incorporação do demônio”.
Dessa forma, essas e outras incorporações mal interpretadas foram se inserindo na mentalidade do povo, fazendo com que esse grave erro de entendimento perdurasse por muitos anos, acima de seu verdadeiro contexto. Infelizmente, nosso querido Guardião Exu ainda é visto por muitos como aquele que faz o mal, e se satisfaz com o que esse mal possa provocar. Durante anos e anos, segmentos religiosos contrários fizeram de tudo para atribuir-lhe conceitos errôneos, criando demônios para defini-lo. Tudo isso não passa de uma grande e injusta mentira, que hoje, graças à evolução, está sendo derrubada, fazendo com que muitos conheçam sua verdadeira função e atividade, que é a de guardião e controlador da Criação e do Universo. É através do Exu que nós, seres humanos, conseguimos exercer nosso livre arbítrio, falando diretamente de nosso coração. “Muitos procuram Exu para satisfazer desejos mesquinhos de vingança, sem se importar com a Lei da Evolução, que é implacável e devolve tudo quando menos se espera.”
O que caracteriza hoje a Gira de Esquerda e até que ponto ela é importante para a Umbanda?
— Em minha opinião, a Gira de Esquerda é indispensável para a Umbanda, porque trabalhamos com a força dos Orixás, e quem trabalha com a força dos Orixás deve também se utilizar da Linha de Esquerda, onde trabalham as Entidades que lidam, controlam e refreiam um pouco as investidas dos espíritos do baixo astral. Nas Giras de Esquerda, Exu e Pomba-Gira são indispensáveis, porque são eles que lidam com essas forças negativas.
Em sua concepção, Exu é um Orixá ou uma Entidade?
— É indiscutível que Exu é um Orixá com a mesma grandeza que os outros. Assim como o Orixá Ogum, em que as linhas de trabalho se apresentam como Caboclos de Ogum, o Orixá Exu tem suas linhas de trabalho que se apresentam como Exus dos mais variados campos: Exus das Encruzilhadas, Exus do Cemitério, Exus das Matas, Exus das Pedreiras, que nada mais são do que manifestadores do Mistério Exu na irradiação dos Orixás.
E o Exu possui uma irradiação específica?
A irradiação pura de Exu, dentro da Umbanda, não é trabalhada, ela só é trabalhada através dos Exus que incorporam nos médiuns como Exus de Trabalho, Exus Guardiões dos Médiuns. Nem o grau de guardião é muito explorado na Umbanda.
E o que o senhor me diz com relação ao Exu, através do sincretismo, ter sido associado ao demônio, com coisa do mal?
— Isso é um mito popular que se criou de que Exu é demônio. A palavra demônio, fazendo aqui um parêntese, é espírito, mas tem essa conotação de coisa trevosa. Exu não é demônio, na religião é elemento religioso, na magia é elemento mágico, na Lei é executor. Então, para nós umbandistas, Exu não tem essa conotação de um ser demoníaco, como no catolicismo essa palavra tem. Acredito até que, por desconhecimento de causa, muitas pessoas acabaram acreditando e ainda acreditam nisso; de onde se criou esse mito popular tão bem explorado por determinadas seitas, que se utiliza de Exu como um “espantalho” para explicar o mal das pessoas, quando sabemos que o mal de cada um reside em si mesmo, e não em seu exterior. Eu não aceito essa conotação, porque trabalhamos com o Exu que ajuda as pessoas, cura, abre os caminhos, e, se fosse esse “demônio” de que tanto falam, não faria tudo isso.
Alguns Terreiros costumam utilizar roupas escuras em suas Giras de Esquerda. É realmente necessário esse tipo de vestimenta? Quem solicita esse aparato?
— Isso tudo vai depender da formação do médium. Existem correntes de Umbanda que recomendam que em dia de Gira de Exu os médiuns devem se vestir de preto e vermelho. Eu respeito, mas não adoto esse tipo de trabalho. Em nossa corrente, nas Giras de Exu todos os médiuns estão vestidos de branco e vibram do mesmo jeito que quando recebem qualquer outro tipo de espírito, não será a nossa veste física que irá mudar o etérico. Eu não adoto em nossos trabalhos espirituais o uso das capas e das vestes pretas e vermelhas, mas também não condeno, porque tudo é uma questão de estilização da Linha de Trabalho.
É possível ao Exu prestar a caridade?
— Da mesma forma que a caridade prestada pelo Caboclo. Dentro do trabalho espiritual, Exu está para servir às pessoas, apenas tem uma forma diferente de trabalho por lidar com as forças negativas dentro daquilo que foi reservado a ele, que precisa de elementos específicos. Enquanto o Caboclo precisa de uma oferenda com frutas, velas coloridas e flores, o Exu precisa da mesma oferenda, mas usando a pimenta, o dendê, pinga, velas pretas, charutos e moedas, elementos característicos que ele manipula com muita facilidade, e usa também esses mesmos elementos para fazer a limpeza etérica e espiritual das pessoas.
E as oferendas a Exu que as pessoas costumam entregar nas encruzilhadas? Por que a encruzilhada?
— Quando alguém se consulta com Exu e pede uma ajuda, ele fala: Faça uma oferenda para mim na encruzilhada, ou nas matas... Existem Exus que trabalham nos cruzamentos das irradiações divinas, que pedem que se despache para ele na encruzilhada. As pessoas entendem como encruzilhada física, e não é necessariamente essa a encruzilhada. Para fazer uma verdadeira oferenda na encruzilhada, a pessoa teria que construí-la em um ponto mágico, em qualquer lugar. Através daquele ponto mágico a pessoa acessa a vibração que o Exu precisa para trabalhar e ajudá-la. As entregas não precisam ser feitas necessariamente nas ruas, ainda que as pessoas façam e o Exu acabe recebendo ali, porque o objetivo dele é ajudar, não tem culpa que as pessoas desconheçam o lado oculto do mistério dele.
Vamos falar sobre o mistério do demônio. O senhor acredita na existência dessa carga contrária à evolução?
— Eu não admito essa conotação que tem o demônio. Digo que existem as esferas negativas projetadas por nós encarnados, alimentadas por nós mesmos. São freqüências vibracionais que existem na Criação; quem entra em sintonia vibratória com essas freqüências é porque está totalmente negativado, o ser humano é o alimentador disso.
No que diz respeito à evolução, não é necessário também esse processo de cada um no contexto do equilíbrio cósmico?
— Claro que sim. Como podemos admitir que uma pessoa, que teve uma passagem terrível e danosa ao seu semelhante aqui na Terra, depois que desencarna ser recolhida no astral junto com espíritos que aqui fizeram uma caminhada luminosa e que são amantíssimos da paz? A mistura acontece no plano físico, não no plano astral. A Lei Maior criou essas faixas vibratórias justamente para recolher esses espíritos, onde eles passam por um esgotamento energético e emocional, e dali só saem quando estiverem preparados para aceitar determinados procedimentos em acordo com a Lei da Evolução. Enquanto não aceitarem vão continuar ali, como numa prisão.
O senhor acredita que a Terra seja um planeta de provas?
— Não. Acredito que este planeta é muito abençoado, porque, até onde sabemos, até onde a ciência conseguiu nos mostrar até agora, não existe outro planeta habitado por perto, se existe, está muito distante. Se os outros não têm esse lado material, o nosso é um planeta privilegiado.
O senhor possui uma obra literária umbandista na qual retrata essa questão. Fale sobre o livro “O Guardião da Meia-Noite”, que hoje já se tornou um ícone no que diz respeito à questão dos guardiões, da magia dos Exus.
— O Guardião da Meia-Noite tornou-se de fato um referencial; acredito ter sido o primeiro livro publicado que aborda de forma tão clara o transe evolutivo de um espírito após a sua queda, sua regressão consciencial. Esse livro retrata a história de um espírito que traz em si um poder muito grande, mas que, por razões que são bem descritas, ele acabou indo parar na faixa negativa, e de lá teve coragem de se reerguer, coragem de admitir seu erro, sua culpa, e iniciar o seu processo de subida vibracional, não física. Ele é o guardião de um mistério. O mistério da passagem. A meia-noite nada mais é do que a passagem, ele é um guardião de passagem, assim como existem outros guardiões, de outros campos. São irradiadores de mistério e têm o poder de agregar espíritos ao mistério deles, e esses espíritos passam a ser manifestadores desses mistérios e se apresentam com o nome deles.
Essa obra o senhor considera uma psicografia da Umbanda?
— É uma psicografia e tem um mentor espiritual responsável por ela, que é o Pai Benedito de Aruanda. Pai Benedito disse que esse trabalho era o início, a abertura para as psicografias dentro da Umbanda num sentido literário, criando uma literatura com valores umbandistas, personagens que se manifestam dentro da Umbanda e que muitos outros autores se somariam a isso posteriormente, e isso eu já vi acontecer.
Quais as últimas palavras que o senhor deixa aos nossos leitores no sentido da conscientização do verdadeiro atributo de Exu?
Peço aos leitores que meditem sobre isso: O Exu possui uma característica dupla: tanto pode ser ativado para abrir como para fechar os caminhos. O que as pessoas precisam entender é que Exu é neutro, o responsável pelos atos é quem os pratica. Que cada um use o Mistério Exu em seu benefício e de seu semelhante, nunca para prejudicar o próximo. Assim, estará ajudando na evolução do próprio Exu, tirando seu negativismo, e comecem a resgatá-lo, pois ele é preciosíssimo para a Umbanda, é o Mistério da Esquerda, é indispensável, não podemos ficar sem a Entidade Exu na Umbanda, e não podemos permitir que as pessoas usem seu poder duplo para acertar contas terrenas, porque estarão contrariando a evolução e tudo retornará a elas, com toda certeza.”
Fonte: Revista Espiritual de Umbanda, Edição Especial um, ano I, Editora Escala.
"É indiscutível que Exu é um Orixá"
Por Alexandre Cumino
Entrevista do médium e macerdote de Umbanda Rubens Saraceni à Revista Espiritual de Umbanda, Edição Especial 1, ano I, Editora Escala.
Rubens Saraceni |
“Exu é o Guardião das Passagens e Porteiras que existem em nosso mundo visível, protegendo, para que não adentrem em nosso ambiente as influências negativas. Sua característica mais marcante é a de transmissor da fertilidade e da fecundação. Caminha no tempo e espaço com tranqüilidade, abrindo nossos caminhos. Difícil falar de Exu sem comentar a controvertida face do mal que se formou no imaginário popular. Outro ponto bastante discutível é se ele é um Orixá ou apenas mais uma Entidade representativa do ser humano. Mas Exu é muito mais que isso; tanto pode se apresentar no mundo visível que conhecemos, como também no mundo dos Orixás, Entidades e Espíritos dos Mortos.
Exus são Entidades muito poderosas, mas qualquer um que se utilize de sua vibração deve tomar sempre muito cuidado para não causar um desequilíbrio energético. Ele é o mensageiro, aquele que leva nossos pedidos até o conhecimento dos Orixás. Na época da escravidão, os negros africanos dançavam nas senzalas e os brancos entendiam como uma simples saudação aos seus deuses. Mas ali incorporavam seus Exus que, com seu jeito de se movimentar e gritar, acabavam por assustá-los. Estes, os brancos, agrediam os médiuns, dizendo que estavam possuídos pelo demônio. Com o tempo, os brancos conheceram melhor a religiosidade africana e sabiam das entregas feitas a Exu, confirmando, em sua visão deturpada, a “incorporação do demônio”.
Dessa forma, essas e outras incorporações mal interpretadas foram se inserindo na mentalidade do povo, fazendo com que esse grave erro de entendimento perdurasse por muitos anos, acima de seu verdadeiro contexto. Infelizmente, nosso querido Guardião Exu ainda é visto por muitos como aquele que faz o mal, e se satisfaz com o que esse mal possa provocar. Durante anos e anos, segmentos religiosos contrários fizeram de tudo para atribuir-lhe conceitos errôneos, criando demônios para defini-lo. Tudo isso não passa de uma grande e injusta mentira, que hoje, graças à evolução, está sendo derrubada, fazendo com que muitos conheçam sua verdadeira função e atividade, que é a de guardião e controlador da Criação e do Universo. É através do Exu que nós, seres humanos, conseguimos exercer nosso livre arbítrio, falando diretamente de nosso coração. “Muitos procuram Exu para satisfazer desejos mesquinhos de vingança, sem se importar com a Lei da Evolução, que é implacável e devolve tudo quando menos se espera.”
O que caracteriza hoje a Gira de Esquerda e até que ponto ela é importante para a Umbanda?
— Em minha opinião, a Gira de Esquerda é indispensável para a Umbanda, porque trabalhamos com a força dos Orixás, e quem trabalha com a força dos Orixás deve também se utilizar da Linha de Esquerda, onde trabalham as Entidades que lidam, controlam e refreiam um pouco as investidas dos espíritos do baixo astral. Nas Giras de Esquerda, Exu e Pomba-Gira são indispensáveis, porque são eles que lidam com essas forças negativas.
Em sua concepção, Exu é um Orixá ou uma Entidade?
— É indiscutível que Exu é um Orixá com a mesma grandeza que os outros. Assim como o Orixá Ogum, em que as linhas de trabalho se apresentam como Caboclos de Ogum, o Orixá Exu tem suas linhas de trabalho que se apresentam como Exus dos mais variados campos: Exus das Encruzilhadas, Exus do Cemitério, Exus das Matas, Exus das Pedreiras, que nada mais são do que manifestadores do Mistério Exu na irradiação dos Orixás.
E o Exu possui uma irradiação específica?
A irradiação pura de Exu, dentro da Umbanda, não é trabalhada, ela só é trabalhada através dos Exus que incorporam nos médiuns como Exus de Trabalho, Exus Guardiões dos Médiuns. Nem o grau de guardião é muito explorado na Umbanda.
E o que o senhor me diz com relação ao Exu, através do sincretismo, ter sido associado ao demônio, com coisa do mal?
— Isso é um mito popular que se criou de que Exu é demônio. A palavra demônio, fazendo aqui um parêntese, é espírito, mas tem essa conotação de coisa trevosa. Exu não é demônio, na religião é elemento religioso, na magia é elemento mágico, na Lei é executor. Então, para nós umbandistas, Exu não tem essa conotação de um ser demoníaco, como no catolicismo essa palavra tem. Acredito até que, por desconhecimento de causa, muitas pessoas acabaram acreditando e ainda acreditam nisso; de onde se criou esse mito popular tão bem explorado por determinadas seitas, que se utiliza de Exu como um “espantalho” para explicar o mal das pessoas, quando sabemos que o mal de cada um reside em si mesmo, e não em seu exterior. Eu não aceito essa conotação, porque trabalhamos com o Exu que ajuda as pessoas, cura, abre os caminhos, e, se fosse esse “demônio” de que tanto falam, não faria tudo isso.
Alguns Terreiros costumam utilizar roupas escuras em suas Giras de Esquerda. É realmente necessário esse tipo de vestimenta? Quem solicita esse aparato?
— Isso tudo vai depender da formação do médium. Existem correntes de Umbanda que recomendam que em dia de Gira de Exu os médiuns devem se vestir de preto e vermelho. Eu respeito, mas não adoto esse tipo de trabalho. Em nossa corrente, nas Giras de Exu todos os médiuns estão vestidos de branco e vibram do mesmo jeito que quando recebem qualquer outro tipo de espírito, não será a nossa veste física que irá mudar o etérico. Eu não adoto em nossos trabalhos espirituais o uso das capas e das vestes pretas e vermelhas, mas também não condeno, porque tudo é uma questão de estilização da Linha de Trabalho.
É possível ao Exu prestar a caridade?
— Da mesma forma que a caridade prestada pelo Caboclo. Dentro do trabalho espiritual, Exu está para servir às pessoas, apenas tem uma forma diferente de trabalho por lidar com as forças negativas dentro daquilo que foi reservado a ele, que precisa de elementos específicos. Enquanto o Caboclo precisa de uma oferenda com frutas, velas coloridas e flores, o Exu precisa da mesma oferenda, mas usando a pimenta, o dendê, pinga, velas pretas, charutos e moedas, elementos característicos que ele manipula com muita facilidade, e usa também esses mesmos elementos para fazer a limpeza etérica e espiritual das pessoas.
E as oferendas a Exu que as pessoas costumam entregar nas encruzilhadas? Por que a encruzilhada?
— Quando alguém se consulta com Exu e pede uma ajuda, ele fala: Faça uma oferenda para mim na encruzilhada, ou nas matas... Existem Exus que trabalham nos cruzamentos das irradiações divinas, que pedem que se despache para ele na encruzilhada. As pessoas entendem como encruzilhada física, e não é necessariamente essa a encruzilhada. Para fazer uma verdadeira oferenda na encruzilhada, a pessoa teria que construí-la em um ponto mágico, em qualquer lugar. Através daquele ponto mágico a pessoa acessa a vibração que o Exu precisa para trabalhar e ajudá-la. As entregas não precisam ser feitas necessariamente nas ruas, ainda que as pessoas façam e o Exu acabe recebendo ali, porque o objetivo dele é ajudar, não tem culpa que as pessoas desconheçam o lado oculto do mistério dele.
Vamos falar sobre o mistério do demônio. O senhor acredita na existência dessa carga contrária à evolução?
— Eu não admito essa conotação que tem o demônio. Digo que existem as esferas negativas projetadas por nós encarnados, alimentadas por nós mesmos. São freqüências vibracionais que existem na Criação; quem entra em sintonia vibratória com essas freqüências é porque está totalmente negativado, o ser humano é o alimentador disso.
No que diz respeito à evolução, não é necessário também esse processo de cada um no contexto do equilíbrio cósmico?
— Claro que sim. Como podemos admitir que uma pessoa, que teve uma passagem terrível e danosa ao seu semelhante aqui na Terra, depois que desencarna ser recolhida no astral junto com espíritos que aqui fizeram uma caminhada luminosa e que são amantíssimos da paz? A mistura acontece no plano físico, não no plano astral. A Lei Maior criou essas faixas vibratórias justamente para recolher esses espíritos, onde eles passam por um esgotamento energético e emocional, e dali só saem quando estiverem preparados para aceitar determinados procedimentos em acordo com a Lei da Evolução. Enquanto não aceitarem vão continuar ali, como numa prisão.
O senhor acredita que a Terra seja um planeta de provas?
— Não. Acredito que este planeta é muito abençoado, porque, até onde sabemos, até onde a ciência conseguiu nos mostrar até agora, não existe outro planeta habitado por perto, se existe, está muito distante. Se os outros não têm esse lado material, o nosso é um planeta privilegiado.
O senhor possui uma obra literária umbandista na qual retrata essa questão. Fale sobre o livro “O Guardião da Meia-Noite”, que hoje já se tornou um ícone no que diz respeito à questão dos guardiões, da magia dos Exus.
— O Guardião da Meia-Noite tornou-se de fato um referencial; acredito ter sido o primeiro livro publicado que aborda de forma tão clara o transe evolutivo de um espírito após a sua queda, sua regressão consciencial. Esse livro retrata a história de um espírito que traz em si um poder muito grande, mas que, por razões que são bem descritas, ele acabou indo parar na faixa negativa, e de lá teve coragem de se reerguer, coragem de admitir seu erro, sua culpa, e iniciar o seu processo de subida vibracional, não física. Ele é o guardião de um mistério. O mistério da passagem. A meia-noite nada mais é do que a passagem, ele é um guardião de passagem, assim como existem outros guardiões, de outros campos. São irradiadores de mistério e têm o poder de agregar espíritos ao mistério deles, e esses espíritos passam a ser manifestadores desses mistérios e se apresentam com o nome deles.
Essa obra o senhor considera uma psicografia da Umbanda?
— É uma psicografia e tem um mentor espiritual responsável por ela, que é o Pai Benedito de Aruanda. Pai Benedito disse que esse trabalho era o início, a abertura para as psicografias dentro da Umbanda num sentido literário, criando uma literatura com valores umbandistas, personagens que se manifestam dentro da Umbanda e que muitos outros autores se somariam a isso posteriormente, e isso eu já vi acontecer.
Quais as últimas palavras que o senhor deixa aos nossos leitores no sentido da conscientização do verdadeiro atributo de Exu?
Peço aos leitores que meditem sobre isso: O Exu possui uma característica dupla: tanto pode ser ativado para abrir como para fechar os caminhos. O que as pessoas precisam entender é que Exu é neutro, o responsável pelos atos é quem os pratica. Que cada um use o Mistério Exu em seu benefício e de seu semelhante, nunca para prejudicar o próximo. Assim, estará ajudando na evolução do próprio Exu, tirando seu negativismo, e comecem a resgatá-lo, pois ele é preciosíssimo para a Umbanda, é o Mistério da Esquerda, é indispensável, não podemos ficar sem a Entidade Exu na Umbanda, e não podemos permitir que as pessoas usem seu poder duplo para acertar contas terrenas, porque estarão contrariando a evolução e tudo retornará a elas, com toda certeza.”
Fonte: Revista Espiritual de Umbanda, Edição Especial um, ano I, Editora Escala.