ERÊ MARIAZINHA DA PRAIA

06/03/2018 11:41

 

 

Mariazinha nasceu em uma região praieira do Sudeste do Brasil, no início do século XX. De uma família sem muitos recursos, seus pais eram pescadores e trabalhavam sobre o domínio de grandes negociadores de peixes e frutos do mar, com esse fato a linda menina de olhar tímido passava a maioria do tempo de seu dia admirando a beleza encantadora do mar, e relembrando o que sua avó, que já tinha partido para os braços de Oxalá, dizia sobre as magias e as bençãos daquela imensidão de águas cristalinas, e também sobre a linda rainha dos mares, na qual a velha senhora a chamava de "princesa Janaína".
 
Mariazinha, ainda uma pequenina criança, ficava encantada com tudo aquilo, seus olhos negros brilhavam de emoção ao se aproximar da areia fina e das águas dançantes pelo poder das ondas, seu coração palpitava quando ouvia o som das ondas e sentia o cheiro inconfundível da maresia.
 
Certa tarde em que o Sol já estava se pondo, a maré baixa, os pescadores se encaminhando a suas choupanas para uma noite de descanso, Mariazinha sentada a beira do mar, brincando na areia, com seus pensamentos voltados a aquele momento de paz, se surpreende ao escutar uma voz feminina, doce, meiga e amável chamando por seu nome, por um instante ela imaginou ser a sua mãe, mas ao levantar seus olhos fintou uma linda imagem de mulher, de lindos cabelos longos, sorriso encantador, vindo em sua direção, parecendo plainar sobre as águas do mar.
 
A menina nem por um instante teve medo, apenas se levantou, sorriu de volta a bela mulher, sentiu seu coração acelerar em uma emoção indescritível.
 
A mulher levando as mãos até as mãos da menina, as pegou com carinho, acariciou-as e disse com uma voz amável quase sussurrando:
 
"Menina Maria, sei que é uma criança especial e iluminada, sei que apesar de sua pouca idade vai compreender muito bem o que vou lhe dizer nesse momento. Você é uma escolhida de Deus, uma criança de grau espiritual elevado, tem a proteção de todos os Orixás, principalmente a minha, sua Mãe Iemanjá, ou como dizia sua amada avó, a "princesa Janaína".
 
Você minha doce criança, tem uma missão em sua caminhada, com seu gesto de amor, carinho e fé, vai auxiliar a compreensão dos seres desse vilarejo. Com sua fé e seu amor, vai salvar centenas de vidas de crianças inocentes, mulheres sem proteção e homens que buscam viver em paz. Isso não vai demorar acontecer, logo deverá demonstrar seu poder de amar e de curar. A cura deverá vir através da magia das águas dos Oceanos, através dos alimentos que os mares oferecem, das algas que brotam nos fundos desses mares. Com essas coisas você vai auxiliar o combate a uma grande peste que cairá sobre todos desse vilarejo, sendo bem afortunados ou não. Essa peste além de trazer muitas mortes em todo povo, vai trazer discórdias entre os homens, fazendo assim que aqueles que sobreviverem a peste, morrerão por intermédio do ódio espalhado pelos próprios homens.
 
Você deverá curar a maioria dos adoentados, sejam eles do lado dos trabalhadores ou dos negociantes, não deve se deixar enganar por falsos profetas, ou pessoas que não veem o desespero de seus semelhantes. E após isso, vai ter uma grande decisão a tomar, se tomar a acertada acabará com a peste e com o ódio, fazendo assim os homens trabalharem em conjunto para a salvação de seus semelhantes. Mas lembre-se, ao tomar essa decisão, mesmo sendo uma criança em tenra idade, não deverá ser tomada pelo medo, estarei sempre a seu lado, e no momento certo você virará um Anjo iluminado a serviço da caridade em nome de Deus, e eu estarei aqui para lhe ajudar a entender esse caminho.
 
Também será concedida a alegria, de enquanto você auxilia seus semelhantes, a presença espiritual de sua caridosa avó, senhora que tanto lhe ama e deseja lhe dar proteção nessa caminhada. Portanto nunca estarás só.
 
Aqui lhe dou a benção e a proteção, ao se sentir receosa, basta apenas rezar com sua fé infantil."
 
E assim a linda Mãe Iemanjá partiu plainando sobre as águas azuladas do grande mar, indo em direção ao horizonte até desaparecer dos olhos da menina que estava extasiada.
 
Ela com lágrimas nos olhos, ainda sem saber o que viria realmente pela frente, por um instante sentiu medo, suas lágrimas rolaram como gotas de cristal, entrelaçou seus dedinhos das mãos uns com os outros demonstrando a verdadeira idade infantilizada daquela menina tão pequenina, mas que deveria ser uma grande guerreira a partir desse momento.
 
Ela se vira para a direção do vilarejo e caminha, se sente um tanto fragilizada e temerosa, acreditaria que não seria capaz de uma missão tão grande, sendo ela apenas uma criancinha. Suspirou profundamente, secou as lágrimas que teimavam em cair, e se sentou novamente nas areias finas da linda praia cercada de palmeiras verdejantes. Teve medo de retornar ao vilarejo, teve medo de estar em delírio, teve medo de falhar.
 
Sentada ao chão arenoso, de pernas entrelaçadas uma a outra, levou as mãos ao rosto meigo e angelical, como se tentasse se esconder do mundo. Sentiu um afago em seus cabelos longos e negros, assustada deu um sobressalto e viu a seu lado a sua doce avó que tanto amava, que lhe disse com carinho:
 
"Venha meu Anjo, vamos retornar a choupana de seus pais, deverá dormir e descansar bastante. Esses dias serão de reflexão, e dentro de alguns dias o trabalho árduo se iniciará, você deverá ter forças para essa jornada, até chegar o dia que estará junto a mim."
 
E juntas se foram para o vilarejo. Ao chegar na choupana em que residia, olhou aos lados, viu várias crianças de todas as idades brincando, homens e mulheres refazendo suas redes de pescas danificadas por algum motivo durante a lida no mar, seus pais na porta do pequeno casebre em conversas sobre a rotina do dia a dia. E nisso a menina entendeu que era uma missão grandiosa, mas que ela deveria fazer com a força e o amor de Deus e dos Orixás.
 
Ela correu ao encontro dos pais e os abraçaram, como o inicio de uma despedida. E ali entendeu que seu destino já estaria traçado.
 
Os dias se passaram, e conforme esperado a peste começava a tomar o corpo físico de várias pessoas do vilarejo, se espalhando rapidamente entre todos, inclusive pelos senhores de grandes posses que ali vinham negociar os pescados.
 
A primeira morte foi anunciada com temor entre os moradores do vilarejo, todos buscavam soluções mas sem nenhum êxito. Os males se espalhavam como fogo em pólvora. Homens, mulheres, crianças, idosos, ricos, pobres, de todas as crenças e de todas as raças, ninguém escapava da veracidade da peste maligna.
 
Com o domínio da peste sobre todos, os grandes negociadores, com suas prepotências, seus desamores e suas ganâncias, determinaram que deveriam encontrar culpados pela grandiosa desgraça que estava acontecendo. Com isso abriram uma guerra contra os enfraquecidos pescadores, dizendo que eles teriam trago a peste a região, e deveriam ser expulsos dali, e os que teimassem em ficar deveriam ser mortos e terem os corpos queimados para evitar a disseminação da doença.
 
Os pescadores não tendo para onde ir, e como trabalharem para sustentarem suas famílias, decidiram ficar e guerrear contra os grandes senhores de poder aquisitivo elevado, e assim começara uma guerra maior que a guerra contra a peste maligna.
 
Com esses fatos a menina Mariazinha foi em busca das forças dos mares para poder tentar paralisar a peste, assim como teria dito a sua amada Mãe Iemanjá.
 
E assim ela o fez, no meio de mortes pela doença ingrata e pelo ódio entre os homens, ela se ajoelhou diante do mar, pediu ensinamentos, e o que deveria levar e fazer para auxiliar os doentes.
 
Do mar saíram várias Sereias, filhas de Iemanjá, e em suas mãos se encontravam peixes, crustáceos, algas, e várias outras coisas do fundo do mar, entre essas Sereias uma trazia um grande jarro com água, e outra trazia nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua.
 
Chegaram bem próximas a orla, Mariazinha adentrou nas águas do mar, recolheu os peixes e algas, por um instante não sabia muito bem o que fazer com eles, mas ao seu lado estava a sua amada avó, que foi lhe dando instruções de como proceder.
 
Com a ajuda de sua querida avó, Mariazinha ia pegando das mãos de cada Sereia um elemento e colocando no jarro, já com as águas sagradas do mar.
 
Macerou algas de diversos tipos, colocou vários peixinhos e pequenos crustáceos no jarro, que quando eram colocados em seu interior se transformavam em minúsculos fachos de luzes brilhantes e coloridas, fazendo com que a linda menina sorri-se se distraindo deixando aquele momento de ajuda ao próximo ainda mais gratificante.
 
Ao acabar a mistura da água, peixes, crustáceos e algas, foi pedido a menina que ela fizesse uma oração com toda fé de seu coração e com todo amor de sua alma, e assim ela o fez. Nesse instante as duas Sereias que traziam nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua, imantaram a doce menina com eles, e das pequenas mãozinhas da criança saiu pequenos raios indo de encontro com o jarro sagrado. Após alguns minutos assim, as Sereias retornaram para o fundo do mar, deixando a menina apenas com o espírito de sua avó.
 
A doce senhora, em luz espiritual, instrui a neta a colocar a água do jarro em pequenas moringas de barro e levar para o vilarejo o mais rápido possível, afim de mostrar a todos o poder de cura existente naquela água, e tentar buscar a paz entre os homens que guerreavam buscando um culpado pela disseminação da peste.
 
A menina foi de volta ao vilarejo, distribuindo a água da moringa, e ao beberem as pessoas adoentadas logo demonstravam melhoras, abrindo os olhos, se levantando de seus leitos, controlando a respiração que antes se apresentava pesada e muito difícil.
 
Os moradores do vilarejo entenderam que era uma água sagrada que vinha curar a todos, e por intermédio das mãos daquela menina abençoada pelas forças do mar, chegaram até eles para disseminar a cura e a paz.
 
Muitos que já se sentiam fortalecidos, correram para junto da menina, demonstrando a vontade em ajudá-la, com moringas nas mãos, a seguiram até o local onde se encontrava o jarro sagrado, enchiam com a água preparada, e corriam de volta ao vilarejo, e em toda a região em torno dele, onde também se encontravam várias pessoas sofredoras pelos males da peste. Pessoas essas que antes desejavam aniquilar todo o vilarejo, alegando que era dali que se espalhava todo o mal.
 
Os ânimos, que antes exaltados, ficaram mais tranquilos com a notícia de que estava acontecendo um "milagre".
 
A menina Mariazinha, juntamente com o espírito de sua avó, ia até a linda praia, refazia com amor e fé toda a mistura de água, peixes e ervas, trazidas pelas Sereias, além de imantar com os raios do Sol e o brilho da Lua, como da primeira vez.
 
O trabalho foi intenso e árduo, mas o resultado foi uma vitória a todos. As pessoas, nitidamente estavam fortalecidas, agradecidas, felizes e com a fé e as esperanças elevadas.
 
Dentre todos os adoentados se encontravam a família de um grande negociador, de muitas posses, de estrema intolerância e prepotência. Esse negociador, com seu poder de indução, e poder maior econômico, foi que levou o aumento do ódio das pessoas que rodeavam a região do vilarejo, contra os seus moradores, fazendo assim com que a guerra da intolerância e ódio crescessem. Mas tão debilitado quanto todos, agora se arrastava em sua residência, sofrendo os males da peste.
 
Ao saber das curas que estavam ocorrendo pela região, pelo intermédio da água sagrada e pela pequena criança, ordenou a um de seus serviçais que fosse com urgência até o vilarejo e trouxesse a cura a ele e a sua família.
 
Dentre as pessoas da família desse famigerado negociador, tinha sua filha, menina doce e meiga, com apenas 5 anos de idade, na qual a peste atacou com toda a força e sem piedade.
 
A menina inerte em seu leito, demonstrava que sua vida se findaria em poucas horas, despejando assim um grandioso desespero ao negociador e sua esposa. Vendo o sofrimento da sua pequena filha, o homem determina que seja trago, o mais rápido possível, o santo remédio para aliviar suas dores.
 
Assim foi feito, o serviçal saindo como um relâmpago em seu baio, foi até o vilarejo e retornou com uma moringa com a água da cura. 
 
Todas as pessoas da família do negociador e mais alguns serviçais, tomaram a água, e logo após sentiam a melhora de uma forma inexplicável. Porém a menina, filha do poderoso homem, não obteve nenhuma reação. De olhos fechados, muito debilitada, febril, continuava inerte, para desespero do homem e sua esposa, que já se encontravam extremamente mais fortes.
 
A febre da menina não cessava, e a cada instante parecia aumentar, já causando convulsões, sua pele ressecada, pálida, trazia uma imagem terrível aos olhos de seus pais, que choravam de desespero.
 
O homem negociador então sai em disparada com a menina em seus braços, e a galopes vai em direção do vilarejo, chegando lá aos gritos de desespero pedindo ajuda a quem pudesse salvar sua filha.
 
Mariazinha corre em direção ao homem, que ao vê-la se atira de joelhos a seus pés, pedindo perdão pela intolerância com o povo do vilarejo, pedindo que todos o perdoassem por ser ele o culpado de iniciar uma guerra entre os ricos, contra o povo menos afortunado. Pedia perdão a Deus, pedia a salvação da sua inocente filha, clamava intensamente com lágrimas nos olhos pela cura da menina. 
 
Pegou nas mãos de Mariazinha com carinho, seu jeito arrogante agora se transformava em plena humildade, beijou as mãos da menina, sussurrando que já tinha dado a água sagrada a sua filha, mas não teve efeito sobre ela. E com um choro verdadeiro e de dor, perguntava a menina, como ela poderia o ajudar.
 
Mariazinha se afasta do homem, se vira em direção ao mar, se ajoelha e começa a fazer sua oração mentalmente a Mãe Iemanjá, que logo aparece com sua face serena, bondosa, com um sorriso meigo no rosto, dizendo a menina:
 
"Minha doce Mariazinha, para salvar essa menina da garras cruéis da morte, deverá acrescentar uma nova alga, que deverá ser pega no interior de uma caverna que fica submersa. Essa caverna vai estar a vista com a maré baixa, mas terá pouco tempo para entrar lá, apanhar a alga correta, que você vai reconhecer logo que a vir, e sair antes da maré subir novamente. Nesse local só poderá ser você, com seu coração puro e amoroso, deverá entrar. Nesse local vai entender sobre a maldade e a injustiça dos homens sem coração. Mas não temas, estarei aqui para te levar a um caminho no qual, sua luz e sua caridade amorosa vai lhe entregar nas mãos de nosso amado Deus."
 
Com isso Mariazinha explica as pessoas presentes o que ela deverá fazer para trazer a menina adoentada a se restabelecer. Explicando também sobre a nova alga, a caverna, e que deveria ir só. 
 
O negociador se levanta deixando toda aquela humildade passageira no chão, esbravejando diz que ele próprio iria buscar a tal alga, que não deixaria a vida de sua filha nas mãos daquela criança.
 
Algumas pessoas contiveram o negociador que parecia esbanjar ódio em seu coração, mas Mariazinha, sabendo que o tempo era curto, tanto para salvar a menina, quanto para a baixa e a subida da maré, saiu correndo, sem dar atenção ao que o homem esbravejava.
 
Chegando nas pedras que levavam a caverna, ela aguardou alguns minutos, e diante de seus olhos via as águas se abaixarem mostrando a entrada da caverna um pouco mais abaixo de onde ela estava. Ela desceu até lá, e entrou, começando a busca pela alga.
 
Enquanto isso, por um descuido dos pescadores, o negociador saindo as escondidas, vai em direção da caverna, para que assim conseguisse, no pensamento dele, trazer a tal alga rapidamente para salvar sua filha.
 
Parecendo outra pessoa de quando de joelhos estava a pedir perdão pelas suas atrocidades, o negociador se lembrava dos momentos de dor que passou pela disseminação da peste, na qual ele julgava os pescadores culpados.
 
Sua mente trabalhava uma vingança tão logo assim sua filha se restabelecesse. Deveria ele expulsar toda aquela "gente suja" dali antes que trouxessem mais males e pestes a todos da região.
 
Chegando nas pedras acima da entrada da caverna, ele já ia descer quando notou que as águas começavam a subir, avistou a menina Mariazinha, que nesse momento já estava com as algas nas mãos, na entrada da caverna.
 
Ele ao vê-la gritou, para que ela se apressasse, pois estava ansioso para levar a cura a sua filha, e claro, na mente dele, iniciar uma nova guerra contra os pescadores.
 
Mariazinha ao prestar atenção no esbravejamento do homem se distrai, pisando em uma pequena loca nas pedras da entrada da caverna, na qual seu pé fica preso.
 
Tentando de todas as maneiras se soltar, ela pede ajuda ao cruel negociador, que diz a ela para lhe entregar as algas, pois ela poderia deixá-las cair nas águas dançantes do mar. E logo que pegasse as algas ele iria puxá-la para cima, fazendo assim que seu pé se desprendesse da loca.
 
Ela esticou os bracinhos em direção do homem, a maré já estava alta, as águas que teimavam em encobrir a entrada da caverna já estava perto da linha da cintura da pequena criança. Ele esticou os braços a ela, e com uma ação rápida e covarde pegou de suas mãos as algas, deixando a menina presa.
 
Ele olhou para ela com um olhar de desprezo, as águas da maré já estava chegando ao rosto angelical da menina, ele deu as costas, e saiu em passos largos, levando nas mãos as algas e deixando Mariazinha entregue as forças descomunais das águas do mar, que nesse momento já tinha encoberto toda a caverna.
 
O homem andando sobre as pedras, por um instante se descuida, escorrega e deixa as algas caírem. Desesperado verifica que ficou algumas algas presas em algumas pedras logo abaixo de si. Com um esforço descomunal tenta pegá-las, e ao deitar sobre as pedras e levar a mão em direção as algas, não nota uma enorme onda de tamanho desproporcional que vem em direção das pedras, arrastando tudo e todos a sua frente. Com isso o homem e puxado para dentro do mar, e sem a menor chance de se salvar, tem seu desencarne de um modo trágico e dolorido.
 
Com o sumiço do negociador do vilarejo, alguns pescadores foram também em direção a caverna, quando avistaram todo o acontecido. Retornaram desolados por acreditarem que Mariazinha tinha sido engolida pela enorme onda também, sem saberem da crueldade feita pelo negociador.
 
Ao chegarem ao vilarejo, relataram os fatos a todo povo, não sabiam o que fazer com a menina adoentada, que nessa altura sua respiração estava intensamente fraca. A mãe da menina, esposa do negociador, sentada ao chão, chorava intensamente, clamava a Deus pela sua menina, e nesse momento o céu abriu um lindo facho de luz azulada, e desse facho apareceu a linda imagem de Mãe Iemanjá de mãos dadas com a linda e sorridente Mariazinha, que trazia em uma das mãos algumas algas, que foram entregues a sua mãe. E essa adicionou no grande jarro,que brilhou como que se soltasse raios do Sol.
 
Deram a água sagrada a menina, que como em um passe de mágica abre os olhos, olha para sua mãe e sorri. Seu estado febril chega ao fim, suas dores se acalmam, ela se levanta e abraça a mãe. Como fosse por encanto a menina se fortaleceu imediatamente, fica de pé, corre até a luz que envolvia Mariazinha e Iemanjá, e se ajoelha em agradecimento, fazendo uma linda oração. 
 
De mãos dadas a Iemanjá, a menina, que agora era chamada de Mariazinha da Praia, segue para o mar, recanto que agora seria seu novo lar.
 
Todos ficam encantados com aquela imagem, até mesmo os pais de Mariazinha, que mesmo com a tristeza de saber do desencarne da menina na vida terrena, entenderam que ela estaria nos braços e na proteção da Rainha do Mar, e assim teria a caminhada iluminada para o lado de Deus, sendo ela mais um anjinho que trabalharia em prol da caridade divina.
 
E realmente foi assim, hoje a doce Mariazinha da Praia tem sua presença em terreiros de Umbanda, trazendo carinho, amor, paz, ensinamentos, fé e caridade a seus consulentes.
 
Fonte: umbandayorima.blogspot.com.br

Mariazinha nasceu em uma região praieira do Sudeste do Brasil, no início do século XX. De uma família sem muitos recursos, seus pais eram pescadores e trabalhavam sobre o domínio de grandes negociadores de peixes e frutos do mar, com esse fato a linda menina de olhar tímido passava a maioria do tempo de seu dia admirando a beleza encantadora do mar, e relembrando o que sua avó, que já tinha partido para os braços de Oxalá, dizia sobre as magias e as bençãos daquela imensidão de águas cristalinas, e também sobre a linda rainha dos mares, na qual a velha senhora a chamava de "princesa Janaína".
 
Mariazinha, ainda uma pequenina criança, ficava encantada com tudo aquilo, seus olhos negros brilhavam de emoção ao se aproximar da areia fina e das águas dançantes pelo poder das ondas, seu coração palpitava quando ouvia o som das ondas e sentia o cheiro inconfundível da maresia.
 
Certa tarde em que o Sol já estava se pondo, a maré baixa, os pescadores se encaminhando a suas choupanas para uma noite de descanso, Mariazinha sentada a beira do mar, brincando na areia, com seus pensamentos voltados a aquele momento de paz, se surpreende ao escutar uma voz feminina, doce, meiga e amável chamando por seu nome, por um instante ela imaginou ser a sua mãe, mas ao levantar seus olhos fintou uma linda imagem de mulher, de lindos cabelos longos, sorriso encantador, vindo em sua direção, parecendo plainar sobre as águas do mar.
 
A menina nem por um instante teve medo, apenas se levantou, sorriu de volta a bela mulher, sentiu seu coração acelerar em uma emoção indescritível.
 
A mulher levando as mãos até as mãos da menina, as pegou com carinho, acariciou-as e disse com uma voz amável quase sussurrando:
 
"Menina Maria, sei que é uma criança especial e iluminada, sei que apesar de sua pouca idade vai compreender muito bem o que vou lhe dizer nesse momento. Você é uma escolhida de Deus, uma criança de grau espiritual elevado, tem a proteção de todos os Orixás, principalmente a minha, sua Mãe Iemanjá, ou como dizia sua amada avó, a "princesa Janaína".
 
Você minha doce criança, tem uma missão em sua caminhada, com seu gesto de amor, carinho e fé, vai auxiliar a compreensão dos seres desse vilarejo. Com sua fé e seu amor, vai salvar centenas de vidas de crianças inocentes, mulheres sem proteção e homens que buscam viver em paz. Isso não vai demorar acontecer, logo deverá demonstrar seu poder de amar e de curar. A cura deverá vir através da magia das águas dos Oceanos, através dos alimentos que os mares oferecem, das algas que brotam nos fundos desses mares. Com essas coisas você vai auxiliar o combate a uma grande peste que cairá sobre todos desse vilarejo, sendo bem afortunados ou não. Essa peste além de trazer muitas mortes em todo povo, vai trazer discórdias entre os homens, fazendo assim que aqueles que sobreviverem a peste, morrerão por intermédio do ódio espalhado pelos próprios homens.
 
Você deverá curar a maioria dos adoentados, sejam eles do lado dos trabalhadores ou dos negociantes, não deve se deixar enganar por falsos profetas, ou pessoas que não veem o desespero de seus semelhantes. E após isso, vai ter uma grande decisão a tomar, se tomar a acertada acabará com a peste e com o ódio, fazendo assim os homens trabalharem em conjunto para a salvação de seus semelhantes. Mas lembre-se, ao tomar essa decisão, mesmo sendo uma criança em tenra idade, não deverá ser tomada pelo medo, estarei sempre a seu lado, e no momento certo você virará um Anjo iluminado a serviço da caridade em nome de Deus, e eu estarei aqui para lhe ajudar a entender esse caminho.
 
Também será concedida a alegria, de enquanto você auxilia seus semelhantes, a presença espiritual de sua caridosa avó, senhora que tanto lhe ama e deseja lhe dar proteção nessa caminhada. Portanto nunca estarás só.
 
Aqui lhe dou a benção e a proteção, ao se sentir receosa, basta apenas rezar com sua fé infantil."
 
E assim a linda Mãe Iemanjá partiu plainando sobre as águas azuladas do grande mar, indo em direção ao horizonte até desaparecer dos olhos da menina que estava extasiada.
 
Ela com lágrimas nos olhos, ainda sem saber o que viria realmente pela frente, por um instante sentiu medo, suas lágrimas rolaram como gotas de cristal, entrelaçou seus dedinhos das mãos uns com os outros demonstrando a verdadeira idade infantilizada daquela menina tão pequenina, mas que deveria ser uma grande guerreira a partir desse momento.
 
Ela se vira para a direção do vilarejo e caminha, se sente um tanto fragilizada e temerosa, acreditaria que não seria capaz de uma missão tão grande, sendo ela apenas uma criancinha. Suspirou profundamente, secou as lágrimas que teimavam em cair, e se sentou novamente nas areias finas da linda praia cercada de palmeiras verdejantes. Teve medo de retornar ao vilarejo, teve medo de estar em delírio, teve medo de falhar.
 
Sentada ao chão arenoso, de pernas entrelaçadas uma a outra, levou as mãos ao rosto meigo e angelical, como se tentasse se esconder do mundo. Sentiu um afago em seus cabelos longos e negros, assustada deu um sobressalto e viu a seu lado a sua doce avó que tanto amava, que lhe disse com carinho:
 
"Venha meu Anjo, vamos retornar a choupana de seus pais, deverá dormir e descansar bastante. Esses dias serão de reflexão, e dentro de alguns dias o trabalho árduo se iniciará, você deverá ter forças para essa jornada, até chegar o dia que estará junto a mim."
 
E juntas se foram para o vilarejo. Ao chegar na choupana em que residia, olhou aos lados, viu várias crianças de todas as idades brincando, homens e mulheres refazendo suas redes de pescas danificadas por algum motivo durante a lida no mar, seus pais na porta do pequeno casebre em conversas sobre a rotina do dia a dia. E nisso a menina entendeu que era uma missão grandiosa, mas que ela deveria fazer com a força e o amor de Deus e dos Orixás.
 
Ela correu ao encontro dos pais e os abraçaram, como o inicio de uma despedida. E ali entendeu que seu destino já estaria traçado.
 
Os dias se passaram, e conforme esperado a peste começava a tomar o corpo físico de várias pessoas do vilarejo, se espalhando rapidamente entre todos, inclusive pelos senhores de grandes posses que ali vinham negociar os pescados.
 
A primeira morte foi anunciada com temor entre os moradores do vilarejo, todos buscavam soluções mas sem nenhum êxito. Os males se espalhavam como fogo em pólvora. Homens, mulheres, crianças, idosos, ricos, pobres, de todas as crenças e de todas as raças, ninguém escapava da veracidade da peste maligna.
 
Com o domínio da peste sobre todos, os grandes negociadores, com suas prepotências, seus desamores e suas ganâncias, determinaram que deveriam encontrar culpados pela grandiosa desgraça que estava acontecendo. Com isso abriram uma guerra contra os enfraquecidos pescadores, dizendo que eles teriam trago a peste a região, e deveriam ser expulsos dali, e os que teimassem em ficar deveriam ser mortos e terem os corpos queimados para evitar a disseminação da doença.
 
Os pescadores não tendo para onde ir, e como trabalharem para sustentarem suas famílias, decidiram ficar e guerrear contra os grandes senhores de poder aquisitivo elevado, e assim começara uma guerra maior que a guerra contra a peste maligna.
 
Com esses fatos a menina Mariazinha foi em busca das forças dos mares para poder tentar paralisar a peste, assim como teria dito a sua amada Mãe Iemanjá.
 
E assim ela o fez, no meio de mortes pela doença ingrata e pelo ódio entre os homens, ela se ajoelhou diante do mar, pediu ensinamentos, e o que deveria levar e fazer para auxiliar os doentes.
 
Do mar saíram várias Sereias, filhas de Iemanjá, e em suas mãos se encontravam peixes, crustáceos, algas, e várias outras coisas do fundo do mar, entre essas Sereias uma trazia um grande jarro com água, e outra trazia nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua.
 
Chegaram bem próximas a orla, Mariazinha adentrou nas águas do mar, recolheu os peixes e algas, por um instante não sabia muito bem o que fazer com eles, mas ao seu lado estava a sua amada avó, que foi lhe dando instruções de como proceder.
 
Com a ajuda de sua querida avó, Mariazinha ia pegando das mãos de cada Sereia um elemento e colocando no jarro, já com as águas sagradas do mar.
 
Macerou algas de diversos tipos, colocou vários peixinhos e pequenos crustáceos no jarro, que quando eram colocados em seu interior se transformavam em minúsculos fachos de luzes brilhantes e coloridas, fazendo com que a linda menina sorri-se se distraindo deixando aquele momento de ajuda ao próximo ainda mais gratificante.
 
Ao acabar a mistura da água, peixes, crustáceos e algas, foi pedido a menina que ela fizesse uma oração com toda fé de seu coração e com todo amor de sua alma, e assim ela o fez. Nesse instante as duas Sereias que traziam nas mãos os raios do Sol e o brilho da Lua, imantaram a doce menina com eles, e das pequenas mãozinhas da criança saiu pequenos raios indo de encontro com o jarro sagrado. Após alguns minutos assim, as Sereias retornaram para o fundo do mar, deixando a menina apenas com o espírito de sua avó.
 
A doce senhora, em luz espiritual, instrui a neta a colocar a água do jarro em pequenas moringas de barro e levar para o vilarejo o mais rápido possível, afim de mostrar a todos o poder de cura existente naquela água, e tentar buscar a paz entre os homens que guerreavam buscando um culpado pela disseminação da peste.
 
A menina foi de volta ao vilarejo, distribuindo a água da moringa, e ao beberem as pessoas adoentadas logo demonstravam melhoras, abrindo os olhos, se levantando de seus leitos, controlando a respiração que antes se apresentava pesada e muito difícil.
 
Os moradores do vilarejo entenderam que era uma água sagrada que vinha curar a todos, e por intermédio das mãos daquela menina abençoada pelas forças do mar, chegaram até eles para disseminar a cura e a paz.
 
Muitos que já se sentiam fortalecidos, correram para junto da menina, demonstrando a vontade em ajudá-la, com moringas nas mãos, a seguiram até o local onde se encontrava o jarro sagrado, enchiam com a água preparada, e corriam de volta ao vilarejo, e em toda a região em torno dele, onde também se encontravam várias pessoas sofredoras pelos males da peste. Pessoas essas que antes desejavam aniquilar todo o vilarejo, alegando que era dali que se espalhava todo o mal.
 
Os ânimos, que antes exaltados, ficaram mais tranquilos com a notícia de que estava acontecendo um "milagre".
 
A menina Mariazinha, juntamente com o espírito de sua avó, ia até a linda praia, refazia com amor e fé toda a mistura de água, peixes e ervas, trazidas pelas Sereias, além de imantar com os raios do Sol e o brilho da Lua, como da primeira vez.
 
O trabalho foi intenso e árduo, mas o resultado foi uma vitória a todos. As pessoas, nitidamente estavam fortalecidas, agradecidas, felizes e com a fé e as esperanças elevadas.
 
Dentre todos os adoentados se encontravam a família de um grande negociador, de muitas posses, de estrema intolerância e prepotência. Esse negociador, com seu poder de indução, e poder maior econômico, foi que levou o aumento do ódio das pessoas que rodeavam a região do vilarejo, contra os seus moradores, fazendo assim com que a guerra da intolerância e ódio crescessem. Mas tão debilitado quanto todos, agora se arrastava em sua residência, sofrendo os males da peste.
 
Ao saber das curas que estavam ocorrendo pela região, pelo intermédio da água sagrada e pela pequena criança, ordenou a um de seus serviçais que fosse com urgência até o vilarejo e trouxesse a cura a ele e a sua família.
 
Dentre as pessoas da família desse famigerado negociador, tinha sua filha, menina doce e meiga, com apenas 5 anos de idade, na qual a peste atacou com toda a força e sem piedade.
 
A menina inerte em seu leito, demonstrava que sua vida se findaria em poucas horas, despejando assim um grandioso desespero ao negociador e sua esposa. Vendo o sofrimento da sua pequena filha, o homem determina que seja trago, o mais rápido possível, o santo remédio para aliviar suas dores.
 
Assim foi feito, o serviçal saindo como um relâmpago em seu baio, foi até o vilarejo e retornou com uma moringa com a água da cura. 
 
Todas as pessoas da família do negociador e mais alguns serviçais, tomaram a água, e logo após sentiam a melhora de uma forma inexplicável. Porém a menina, filha do poderoso homem, não obteve nenhuma reação. De olhos fechados, muito debilitada, febril, continuava inerte, para desespero do homem e sua esposa, que já se encontravam extremamente mais fortes.
 
A febre da menina não cessava, e a cada instante parecia aumentar, já causando convulsões, sua pele ressecada, pálida, trazia uma imagem terrível aos olhos de seus pais, que choravam de desespero.
 
O homem negociador então sai em disparada com a menina em seus braços, e a galopes vai em direção do vilarejo, chegando lá aos gritos de desespero pedindo ajuda a quem pudesse salvar sua filha.
 
Mariazinha corre em direção ao homem, que ao vê-la se atira de joelhos a seus pés, pedindo perdão pela intolerância com o povo do vilarejo, pedindo que todos o perdoassem por ser ele o culpado de iniciar uma guerra entre os ricos, contra o povo menos afortunado. Pedia perdão a Deus, pedia a salvação da sua inocente filha, clamava intensamente com lágrimas nos olhos pela cura da menina. 
 
Pegou nas mãos de Mariazinha com carinho, seu jeito arrogante agora se transformava em plena humildade, beijou as mãos da menina, sussurrando que já tinha dado a água sagrada a sua filha, mas não teve efeito sobre ela. E com um choro verdadeiro e de dor, perguntava a menina, como ela poderia o ajudar.
 
Mariazinha se afasta do homem, se vira em direção ao mar, se ajoelha e começa a fazer sua oração mentalmente a Mãe Iemanjá, que logo aparece com sua face serena, bondosa, com um sorriso meigo no rosto, dizendo a menina:
 
"Minha doce Mariazinha, para salvar essa menina da garras cruéis da morte, deverá acrescentar uma nova alga, que deverá ser pega no interior de uma caverna que fica submersa. Essa caverna vai estar a vista com a maré baixa, mas terá pouco tempo para entrar lá, apanhar a alga correta, que você vai reconhecer logo que a vir, e sair antes da maré subir novamente. Nesse local só poderá ser você, com seu coração puro e amoroso, deverá entrar. Nesse local vai entender sobre a maldade e a injustiça dos homens sem coração. Mas não temas, estarei aqui para te levar a um caminho no qual, sua luz e sua caridade amorosa vai lhe entregar nas mãos de nosso amado Deus."
 
Com isso Mariazinha explica as pessoas presentes o que ela deverá fazer para trazer a menina adoentada a se restabelecer. Explicando também sobre a nova alga, a caverna, e que deveria ir só. 
 
O negociador se levanta deixando toda aquela humildade passageira no chão, esbravejando diz que ele próprio iria buscar a tal alga, que não deixaria a vida de sua filha nas mãos daquela criança.
 
Algumas pessoas contiveram o negociador que parecia esbanjar ódio em seu coração, mas Mariazinha, sabendo que o tempo era curto, tanto para salvar a menina, quanto para a baixa e a subida da maré, saiu correndo, sem dar atenção ao que o homem esbravejava.
 
Chegando nas pedras que levavam a caverna, ela aguardou alguns minutos, e diante de seus olhos via as águas se abaixarem mostrando a entrada da caverna um pouco mais abaixo de onde ela estava. Ela desceu até lá, e entrou, começando a busca pela alga.
 
Enquanto isso, por um descuido dos pescadores, o negociador saindo as escondidas, vai em direção da caverna, para que assim conseguisse, no pensamento dele, trazer a tal alga rapidamente para salvar sua filha.
 
Parecendo outra pessoa de quando de joelhos estava a pedir perdão pelas suas atrocidades, o negociador se lembrava dos momentos de dor que passou pela disseminação da peste, na qual ele julgava os pescadores culpados.
 
Sua mente trabalhava uma vingança tão logo assim sua filha se restabelecesse. Deveria ele expulsar toda aquela "gente suja" dali antes que trouxessem mais males e pestes a todos da região.
 
Chegando nas pedras acima da entrada da caverna, ele já ia descer quando notou que as águas começavam a subir, avistou a menina Mariazinha, que nesse momento já estava com as algas nas mãos, na entrada da caverna.
 
Ele ao vê-la gritou, para que ela se apressasse, pois estava ansioso para levar a cura a sua filha, e claro, na mente dele, iniciar uma nova guerra contra os pescadores.
 
Mariazinha ao prestar atenção no esbravejamento do homem se distrai, pisando em uma pequena loca nas pedras da entrada da caverna, na qual seu pé fica preso.
 
Tentando de todas as maneiras se soltar, ela pede ajuda ao cruel negociador, que diz a ela para lhe entregar as algas, pois ela poderia deixá-las cair nas águas dançantes do mar. E logo que pegasse as algas ele iria puxá-la para cima, fazendo assim que seu pé se desprendesse da loca.
 
Ela esticou os bracinhos em direção do homem, a maré já estava alta, as águas que teimavam em encobrir a entrada da caverna já estava perto da linha da cintura da pequena criança. Ele esticou os braços a ela, e com uma ação rápida e covarde pegou de suas mãos as algas, deixando a menina presa.
 
Ele olhou para ela com um olhar de desprezo, as águas da maré já estava chegando ao rosto angelical da menina, ele deu as costas, e saiu em passos largos, levando nas mãos as algas e deixando Mariazinha entregue as forças descomunais das águas do mar, que nesse momento já tinha encoberto toda a caverna.
 
O homem andando sobre as pedras, por um instante se descuida, escorrega e deixa as algas caírem. Desesperado verifica que ficou algumas algas presas em algumas pedras logo abaixo de si. Com um esforço descomunal tenta pegá-las, e ao deitar sobre as pedras e levar a mão em direção as algas, não nota uma enorme onda de tamanho desproporcional que vem em direção das pedras, arrastando tudo e todos a sua frente. Com isso o homem e puxado para dentro do mar, e sem a menor chance de se salvar, tem seu desencarne de um modo trágico e dolorido.
 
Com o sumiço do negociador do vilarejo, alguns pescadores foram também em direção a caverna, quando avistaram todo o acontecido. Retornaram desolados por acreditarem que Mariazinha tinha sido engolida pela enorme onda também, sem saberem da crueldade feita pelo negociador.
 
Ao chegarem ao vilarejo, relataram os fatos a todo povo, não sabiam o que fazer com a menina adoentada, que nessa altura sua respiração estava intensamente fraca. A mãe da menina, esposa do negociador, sentada ao chão, chorava intensamente, clamava a Deus pela sua menina, e nesse momento o céu abriu um lindo facho de luz azulada, e desse facho apareceu a linda imagem de Mãe Iemanjá de mãos dadas com a linda e sorridente Mariazinha, que trazia em uma das mãos algumas algas, que foram entregues a sua mãe. E essa adicionou no grande jarro,que brilhou como que se soltasse raios do Sol.
 
Deram a água sagrada a menina, que como em um passe de mágica abre os olhos, olha para sua mãe e sorri. Seu estado febril chega ao fim, suas dores se acalmam, ela se levanta e abraça a mãe. Como fosse por encanto a menina se fortaleceu imediatamente, fica de pé, corre até a luz que envolvia Mariazinha e Iemanjá, e se ajoelha em agradecimento, fazendo uma linda oração. 
 
De mãos dadas a Iemanjá, a menina, que agora era chamada de Mariazinha da Praia, segue para o mar, recanto que agora seria seu novo lar.
 
Todos ficam encantados com aquela imagem, até mesmo os pais de Mariazinha, que mesmo com a tristeza de saber do desencarne da menina na vida terrena, entenderam que ela estaria nos braços e na proteção da Rainha do Mar, e assim teria a caminhada iluminada para o lado de Deus, sendo ela mais um anjinho que trabalharia em prol da caridade divina.
 
E realmente foi assim, hoje a doce Mariazinha da Praia tem sua presença em terreiros de Umbanda, trazendo carinho, amor, paz, ensinamentos, fé e caridade a seus consulentes.
 
Fonte: umbandayorima.blogspot.com.br