ERVAS DOS ORIXÁS

24/06/2017 15:23
No que diz respeito à relação entre tabus alimentares dos orixás e proibições impostas a seus filhos a partir dos mitos africanos, é compreensível que, devido à proibição de “comer do mesmo material de que a cabeça é feita”, não se deva usar alimento algum que constitui oferenda votiva do orixá dono da cabeça.
O que mais chama a atenção é a universal proibição do sangue. “O sangue”, escreve “é um poderoso veículo do axé, que deverá restituir aos orixás a força que despendem neste mundo e à qual devemos a existência”. Na matança, sangra-se o animal até a última gota. É através do sangue que, na cerimónia de assentamento, se estabelece a ligação entre a cabeça do iniciado, partes do seu corpo, e a pedra na qual o orixá se faz presente. do mesmo modo que a água, fonte e origem da vida, é repetidamente vertida em todas as cerimónias propiciatórias e iniciáticas, por representar a fluida substancia de toda criação, o derramamento do sangue dos animais de dois ou quatro pés expressa a própria essência do sacrifício, pois junto com o sangue corre a vida. A água é origem, o sangue, circulação. As trocas reparadoras de axé incluem forçosamente, portanto, a realização do sacrifício. Nessa perspectiva, fica obvia a necessidade de proibir-se a ingestão de sangue (sob qualquer forma que seja, e nisso podemos incluir os miúdos, a fressura, sangue “compactado”por assim dizer) aos filhos de tudo quanto é orixá. É substancia por demais poderosa para ser ingerida em situações profanas.
Filho de santo jamais pode comer o que o santo dele come? Ou pode? em que circunstâncias?
Entre muitas, as respostas de S.M.E. são bastante esclarecedoras: “Tudo o que o orixá come faz bem ao filho, tanto que quando ele oferece a comida tem que comer junto, para que ele não se ofenda. Mas às vezes, fora do ilê orixá, é tabu“. Ou seja, o filho deve e não deve comer. Nessa informação, fica claro que a interdição está ligada à situação, ou melhor dizendo, parece que o próprio da proibição é delimitar dois espaços, rigorosamente separados, que o momento do ritual permite juntar, e até mesmo, tornar permeáveis. É pela mediação do ritual, repetido inúmeras vezes no decorrer do tempo, que se abre o espaço sagrado. Na vida cotidiana do filho de santo, é proibido desfrutar as mesmas comidas que alimentam o orixá. Se desobedecer, “faz mal”.
Na casa do orixá, a ingestão de comidas votivas é não apenas permitida, mas sim obrigatória. É imprescindível participar do banquete sagrado. Se, naquele momento, o filho não comer do mesmo material de que sua cabeça é feita, o orixá oferecer-se-á. Ou, como já ouvi dizer, na hora da oferenda, “a gente precisa comer, que é para ele ver que não tem veneno”. esse comentário aparentemente jocoso é bastante elucidativo. Não é somente o ilê orixá, espaço sagrado e portanto preservado, que garante a não nocividade da comida de santo para o iniciado, é também o adepto que, por sua vez, se torna fiador, junto ao orixá, da excelência da comida que lhe é oferecida.
Comer alimentos sagrados como bem sabiam os sacerdotes hebreus, é assegurar a sacralização do próprio corpo. No ilê orixá, o iniciado participa do banquete dos deuses, nutre-se do mesmo material de que é feita a sua cabeça, reforça a sua identidade como parente de determinada divindade. Fora do espaço sagrado, é-lhe proibido ingerir essas mesmas substâncias.
Mas o seu corpo também é um espaço, que pelo cumprimento dos preceitos é constantemente mantido em condições de se tornar receptáculo da divindade. Por isso tem de abster-se de ingerir comidas rejeitadas pelo seu orixá, e até mesmo aproximar-se delas. Quebrar quizila, nessa perspectiva, é praticamente uma autodestruição. Faz mal. A pessoa adoece. Mas, ao mesmo tempo, pode-se aplicar à construção do corpo a mesma visão dialéctica que se foi afirmado com tanta nitidez em relação à construção do mundo. Aqui também a transgressão destrói e reforça limites, de modo realmente tangível, porque passam pelo corpo, e simbólico também, pois redundam na afirmação de identidade mítica.
 


Quizilas dos orixás 

 
 
Quizila é tudo aquilo que o nosso orixá rejeita, por qualquer motivo peculiar, que por vezes desconhecemos.
 
Algumas das principais quizilas conhecidas são:
 
- Não passar atrás de corda de animal 
- Não deixar passar com fogo nas nossas costas 
- Não pagar nem receber dinheiro em jejum 
- Não passar embaixo de escadas 
- Não comer abóbora 
- Não comer peixe de pele ( só comer peixe de escamas ) 
- Não comer carangueijos 
- Não comer siri 
- Não comer muçum ou arrai ( quizila de Oxun ) 
- Não comer cajá 
- Não comer carambola ( pertence a Egun ) 
- Não comer fruta-de-conde ou sapoti 
- Evitar abacaxi ( quizila de Omolu ) 
- Evitar comer carne de porco ( quizila de Omulu ) 
- Evitar manga-espada ( quizila de Ogun ) 
- Evitar manga-rosa ( quizila de Yasán ) 
- Evitar tangerina ( quizila de Oxóssi ) 
- Não comer caça ( quizila de Oxóssi ) 
- Não comer carne nas segundas e sexta-feiras 
- Usar roupa branca nas segundas e sextas-feiras 
- Evitar carne de pato ( quizila de Yemanjá ) 
- Evitar carne de ganso ( quizila de Oshumarê ) 
- Não comer carne de pombo ou galinha D'angola 
- Não ter em casa penas de pavão ( tiram a sorte ) 
- Não varrer casa à noite 
- Evitar côco ( quizila de Oxóssi ) 
- Evitar melancia ( quizila de Oxun ) 
- Evitar fubá de milho ( quizila de Oxóssi ) 
- Não pregar botão em roupa no corpo 
- Não usar roupas pretas ou vermelhas 
- Evitar cemitérios 
- Não comer a comida queimada do fundo das panelas 
- Evitar aipim ou mandioca ( pertencente a Egun ) 
- Não comer bertália 
- Não comer taioba ( quizila de Anamburucu ) 
- Não comer pepino 
- Não comer pepino 
- Não comer das folhas do jambo 
- Não comer jaca 
- Evitar ovos ( quizila de Oxun ) 
- Não comer as pontas : cabeças, pés e asas de aves 
- Não jurar pelo santo, nem pedir mal aos outros 
- Nunca se fala cuscuzeiro nem cuscuz, para não revoltar Obaluayiê e Omulu fala-se agerê e bolo branco.

- Filho de Oxóssi não come milho vermelho, nem milho verde. 
- Nunca misturar ori com epô.
-Quando estiver em dúvida sobre uma qualidade de Orixá, não coloque azeite de dendê no Okutá do santo. Substitua o dendêpelo azeite de Oliva ( doce ), que pertence a Oxalá e pode ser usado por qualquer Orixá.
- Evitar comer uva itália ( quijila de Ogun )
- Evitar mostarda ( quizila de Anamburucu )
- Oxalá tem quizila a todas as comidas preparadas no azeite de dendê, portanto os filhos de Oxalá não podem comer delas.
- Não comer amoras e evitar passar embaixo do pé de amora ( pertence a Babá Egun ) Notas:
- O povo de Keto não faz mal aos outros. O vingador, para todas as ocasiões, chama-se Bará Alaketo, que é o Exú que responde pelas injustiças que nos fizerem.
- Os búzios para assentamento de Santo ( Orixá ) são sempre Abertos.
- Nunca se faz um Santo sem dar presente à Osanyin.
- Não se assenta Omulu sem se assentar Anamburucu. 
- Não se assenta Nanã sem assentar Omulu. 
- O pelepé em cima de talha é feito principalmente em casas de Angola.
- Ifá é o Deus da adivinhação. 
- Costuma-se assentar Omulu e Obaluayiê sete dias antes da feitura. 
- Nunca se faz Ogún sem assentar Oxóssi. 
- Nunca se faz Oxóssi sem assentar Ogún. 
- Nunca se faz Oshún sem assentar Yemanjá. 
- O Bará e conferido e tratado três dias antes da feitura, quando se lhe dá comida. 
- Quando se faz Oxalá, se assenta Oshún e Yemanjá. 
- Sempre que recolher um Yawo , usa-se um pote para fazer oOmieró ou Abô do Santo que estiver recolhido.
- Na terra de Keto não existe caboclo. Porém, no brasil o cabocloé um elemente nosso, ao qual respeitamos e admitimos comocatiço e é tão respeitado como um Orixá. 
- Shangô costuma ser assentado seis dias antes de sua feitura.