Oração ao Pai Benedito de Aruanda
16/07/2015 10:03
ORAÇÃO A PAI BENEDITO DE ARUANDA
Salve São Benedito!Saravá o Cruzeiro Santo das Almas!
Saravá o bondoso preto-velho de Umbanda Pai Benedito de Aruanda, alma bendita e abençoada, que um dia nasceu nas terras da velha mãe África.
Suplico a tua força para me desamarrar dessas amarguras que depositaram em minhas costas.
Pai Benedito de Aruanda, fostes um grande rezador e curandeiro; livravas os infelizes das ganas dos males físicos e espirituais, me ajude agora e sempre, por onde meus pés cansados caminhar.
Cruza a tua pemba imaculadamente branca, como são teus cabelos, pedindo o Pai Olorum, Pai Zambi, Pai Oxalá para trazer paz em minha vida e a angústia do meu coração desaparecer.
Ao fumar o teu cachimbo, tua fumaça faz desenhos no ar, carregando o medo, a calúnia e tudo o que venha fazer meu coração sofrer.
Oh! Meu Pai Benedito de Aruanda , com tuas ervas reze para abrir meus caminhos, espantando meus inimigos, os feitiços e as ciladas bem armadas, me livrando e livrando meu Anjo da Guarda.
Grande preto-velho da seara da Umbanda, vencedor de muitas demandas, pois nunca vi perder uma parada, me dê às vitórias que preciso.
As Santas Almas te rendem homenagens meu bom preto-velho e as almas sofredoras como eu, pede a tua luz para clarear quem vive em trevas.
Pai Benedito de Aruanda , a partir de agora, respiro de alívio, pois sei, que diante desta reza, o meu hoje, o meu amanhã e o meu sempre, serão de alegria e de muitas felicidades.
Saravá! Ao grande Pai Benedito de Aruanda.
[Alex de Oxóssi]
PRECE POEMA A “PAI BENEDITO DE ARUANDA”
Ronaldo LinaresMeu bondoso Preto-Velho!
Aqui estou de joelhos, agradecido contrito, aguardando sua benção.
Quantas vezes com a alma ferida, com o coração irado, com a mente entorpecida pela dor da injustiça eu clamava por vingança, e Tu, oculto lá no fundo do meu Eu, com bondade compassiva me sussurravas ESPERANÇA.
Quantas vezes desejei romper com a humanidade, enfrentar o mal com maldade, olho por olho, dente por dente, e Tu, escondido em minha mente, me dizias simplesmente:
” Sei que fere o coração a maldade e a traição, mas, responder com ofensas, não lhe trará a solução. Pára, pensa, medita e ofereça-lhe o perdão. Eu também sofri bastante, eu também fui humilhado, eu também me revoltei, também fui injustiçado.
Das savanas africanas, moço, forte, livre, num instante transformado em escravo acorrentado, nenhuma oportunidade eu tive. Uma revolta crescente me envolvia intensamente, por que algo me dizia, que eu nunca mais veria minha Aruanda de então, não ouviria a passarada, o bramir dos elefantes, o rugido do leão, minha raça de gigantes que tanto orgulho tivera, jazia despedaçada, nua, fria, acorrentada num infecto porão.
Um ódio intenso o meu peito atormentava, por que OIÀ não mandava uma grande tempestade? Que Xangô com seus raios partisse aquela nave amaldiçoada, que matasse aquela gente, que tão cruel se mostrara, que até minha pobre mãezinha, tão frágil, já tão velhinha, por maldade acorrentara. E Iemanjá, onde estava que nossa desgraça não via, nossa dor não sentia, o seu peito não sangrava? Seus ouvidos não ouviam a súplica que eu lhe fazia? Se Iemanjá ordenasse, o mar se abriria, as ondas nos envolveriam; ao meu povo ela daria a desejada esperança, e aos que nos escravizavam, a necessária vingança.
Porém, nada aconteceu, minha mãezinha não resistiu e morreu; seu corpo ao mar foi lançado, o meu povo amedrontado, no mercado foi vendido, uns pra cá, outros pra lá e, como gado, com ferro em brasa marcado.
Onde é que estava Ogum? Que aquela gente não vencia, onde estavam as suas armas, as suas lanças de guerra? Porém, nada acontecia, e a toda parte que olha, somente um coisa via… terra.
Terra que sempre exigia mais de nossos corpos suados, de nossos corpos cansados.
Era a senzala, era o tronco, o gato de sete rabos que nos arrancava o couro, era a lida, era a colheita que para nós era estafa, para o senhor era ouro.
Quantas vezes, depois que o sol se escondia, lá no fundo da senzala, com os mais velhos aprendia, que no nosso destino no fim não seria sempre assim, quantas vezes me disseram que Zambi olhava por mim.
Bem me lembro uma manhã, que o rancor era grande, vi sair da casa grande, a filha do meu patrão. Ingênua, desprotegida, meu pensamento voou: eis a hora da vingança, vou matar essa criança, vou vingar a minha gente, e se por isso morrer, sei que vou morrer contente.
E a pequena caminhava alegre, despreocupada, vinha em minha direção, como a fera aguarda a caça, eu esperava ansioso, minha hora era chegada. Eu trazia as mãos suadas, nesse momento odioso, meu coração disparava, vi o tronco, vi o chicote, vi meu povo sofrendo, apodrecendo, morrendo e nada mais vi então. Correndo como um possesso, agarrei-a por um braço e levantei-a do chão.
Porém, para minha surpresa, mal eu ergui a menina, uma serpente ferina, como se fora o próprio vento, fere o espaço, errando, por minha causa, o seu bote tão fatal; tudo ocorreu tão de repente, tudo foi de forma tal, que ali parado eu ficara, olhando a serpente que sumia no matagal.
Depois, com a criança em meus braços, olhei meus punhos de aço que a deviam matar… olhei seus lindos olhinhos que insistiam em me fitar. Fez-me um gesto de carinho, eu estava emocionado, não sabia o que falar, não sabia o que pensar.
Meus pensamentos estavam numa grande confusão, vi a corrente, o tronco, as minhas mãos que vingavam, vi o chicote, a serpente errando o bote… senti um aperto no coração, as minhas mãos calejadas pelo machado, pela enxada, minhas mãos não matariam, não haveria vingança, pois meu Deus não permitira que morresse essa criança.
Assim o tempo passou, de rapaz forte de antes, bem pouca coisa restou, até que um dia chegou e Benedito acabou…
Mas, do outro lado da morte eu encontrei nova vida, mais longa, muito mais forte, mais de amor e de perdão, os sofrimentos de outrora já não importam agora, por que nada foi em vão…
Fomos mártires nessa vida, desta Umbanda tão querida, religião do coração, da paz, do amor, do perdão”.
Pai Ronaldo Antônio Linares, presidente da Federação Umbandista do Grande ABC e responsavel pelo Santuário Nacional da Umbanda